quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Orientalismo – 1) Por que os Sábios de outras Latitudes não Criaram a Ciência Moderna?

Ora, porque para os orientais o modo de pensar dos ocidentais está errado e é enganador. Ademais, para os Sábios orientais, os enfoques, as deduções e induções que a Ciência Moderna estabeleceu, e respectivas condutas, não cabem porque tudo acabará resultando em forjações, em engendramentos, em superposições e em consubstanciação ou concretização de fantasmagorias. Os orientais desde épocas imemoriais sempre souberam que o pensamento é um trapalhão e trapaceiro. É sempre um ótimo criado, mas nunca pode ser um Senhor autêntico. Senhor verdadeiro é somente o SER ou EU SOU, jamais cerebral. Disso tudo eles sempre desconfiaram.
Portanto, transformar o pensamento pretensamente cerebral numa ferramenta lógico-racional impecável – ou num Organon – para captar o mundo e o universo e explicá-los, equacioná-los, transformá-los em Leis, isso sim foi um absurdo completo, e continua sendo. Os Mestres Orientais não aceitam a validez da dualidade lógico-racional e cartesiana. Ou seja de que haja uma pessoa que pensa aqui e haja um objeto lá, que se estende, lá. E esses são os famosos res cogitans e res extensa que Descartes inventou e a ciência aceitou e impôs. Para os Sábios Orientais o Sujeito Verdadeiro e o Objeto também verdadeiro são somente “Sentir” e “Isto” Primevos. E são inabordáveis, inexplicáveis, não equacionáveis e sempre se nos apresentam como NÃO-DUALIDADE. Não são UM ou não são um tipo monismo absolutista, nem são dualismo (sujeito e objeto separados) ou pluralidade conforme a cultura científica do Ocidente. Isto-Sentir ou Sentir-Isto são o que são.
Por conseguinte, não se obsequie total liberdade a que uma parte enganadoramente pensante e falante se meta e opinar a seu próprio respeito e a respeito do objeto que tem pela frente, como o homem ocidental costuma fazer. E se o fizer, que opine sim, mas que fique discretamente com suas opiniões e não tente impô-las a terceiros, a não ser que estes terceiros as queiram. Proíba-se também a esse ego-opinador de atuar em liberdade total, e em conformidade ao que pensou e achou, porquanto tudo o que essa falsa pessoa pensante pensa, isso se objetiva, isso aparece, isso se concretiza, isso se materializa, se para tal for executado o ato propositado ou o ato intencional, relacionado à tal ideação, suposição etc. Sempre em conformidade com a Lei da Geração Condicionada: “Isto sendo, em pensamento, aquilo aparece, acontece, se objetiva, se concretiza, se materializa, se para tal for executado o ato intencional. Isto não sendo pensado, aquilo não aparece, não acontece, porque além de não se pensar, não se atua. Aqui estariam os porque das catástrofes da ciência moderna e suas absurdas e incríveis poluições.
Os bons Mestres orientais nunca se permitiram dar primazia nem à subjetividade discursiva e intelectualizada nem à objetividade pretensamente material e que se estenderia diante do homem. O primeiro plano ou a primazia só cabe ao Homem Verdadeiro, restrito ao Saber-Sentir-Intuir-Atuar-Amar, nunca ao torpe pensar e vulgar raciocinar.
A maior parte dos mestres orientais sempre aplicou em si mesmo o eterno princípio do: "Homem, homem, antes de mais nada conhece-te a ti mesmo. Só depois que te autoconheceres com perfeição saberás o que é o mundo, o que é o universo e quem é Deus. Se não te conheceres Aqui e Agora em profundidade, apenas estarás te reforçando como forjador de ilusões, como extrojetor de fantasmagorias, como ego falastrão e opinador e apenas estarás engendrando fantasmagorias próprias que impingirás ao próximo dizendo que “esta é a maior das descobertas e é a maior das verdades. naturais!" Os Mestres Orientais, não importa se budistas, zenbudistas, taoístas, hinduístas, sabem que nunca houve uma criação inicial no espaço e no começo do pretenso tempo cósmico, nem da parte de um Deus personificado, como o da Bíblia e qualquer outro livro sagrado, nem da parte do deus Acaso da ciência, com seu ridículo Big-Bang, Universo das cordas etc., ou ainda nem da parte de circunstâncias desconhecidas, como alega a ciência moderna. Tais Sábios admitem, isto sim, que as religiões populares de seus países falem em deuses secundários, que a modo de dizer, teriam criado o universo, o mundo, como teriam feito o deus Brahma da Índia ou o Tao personificado da China, mas no fundo sabem que o Absoluto Brahmán, Aqui e Agora, é Existência em Manifestação Pura sem precisar criar coisa nenhuma, o mesmo acontecendo com o Grande TAO, de Laotsé . Para escândalo do cristão ocidental, Jesus da Galiléia também era dessa Divina Corrente Manifestadora ou Emanadora. E a propósito, em nenhuma parte dos Quatro Evangelhos Jesus fala de um Jeová feito um pretenso Criador, quando em verdade é um déspota e senhor dos exércitos ou da violência.
Jesus fala do DEUS AMOR, fala de EU SOU, ou fala do "meu Pai Celestial".
Pois bem. O Pai Celestial de Jesus sim que é o Verdadeiro Deus Vivo que não criou coisa alguma, mas continua se manifestando feito Vida, Aqui e Agora. E curiosamente é o próprio Jesus quem declara: “Meu Pai trabalha até Agora -- isto é, Meu Pai não cessou de se Manifestar e de resultar em Vida -- e EU, Cristo, trabalho também!...” E estas palavras vão muito além do simples mandamento ligado ao Sábado. E portanto, se não houve criação nem da parte de um deus personificado, nem da parte do acaso científico, e sim só há uma Manifestação em Constante Renovação, nada existe oculto, nada pode ser descoberto, nada pode ser decifrado a respeito do mundo e do universo e do próprio homem, porque nada ficou escondido.
E tudo o que se diz descobrir e se diz decifrar em verdade apenas se engendra, se recria, se inventa, se forja, e se extrojeta, se superpõe, para depois maravilhar ou enganar o próximo. É por isso que os orientais três ou quatro mil anos atrás descobriram que a Vida era constituída por duas gerações. Uma Incondicionada, Absoluta, perfeita, harmônica, livre, simplesmente fantástica e outra, SUPERPOSTA E FALSA, recriada pela Demiurgo, engendrada pelo pensamento humano e totalmente condicionada.
Na Geração Incondicionado do Pai Celestial nenhuma Lei física ou moral prevalece a não ser a Lei do mais perfeito Amor. A outra, ou a Geração Condicionada, representada por este nosso mundo cotidiano, pelo mundo que só os cientistas vêem, corresponde aos universos microscópicos, normoscópicos (cotidianos) e macroscópicos ou astronômicos, reinventados pela ciência moderna.
Aqui vinga a Lei da Geração Condicionada, Lei que rege todas as engendrações, distorções e superposições humanas. Aqui também regem a Lei da Interdependência (“Sou eu que te vejo, e vendo-te me vejo, e vendo-me te faço) e a Lei Moral da Ação e Reação ou Lei do Carma. Foi graças à Lei da Geração Condicionada (ou Pratityasamutpada) que todas as demais leis dos homens, científicas, morais, religiosas, judiciais etc.etc. passaram a vingar ou a prevalecer. A Ciência moderna não fez outra coisa senão por a Lei da Geração Condicionada e a Lei da Interdependência em funcionamento como nunca se viu, e isso desde os tempos do abnegado Galileu Galilei do século XVII.
Os Mestres Orientais nunca aceitaram o total separatismo entre o sujeito e o objeto dito material. Sabem por vivência própria que o cordão umbilical que une a pessoa pensante ao objeto pensado não é cortado por nenhuma filosofia dualista , seja a de Aristóteles, de Tomas de Aquino, de Descartes, de Kant, de Hegel etc. A identidade sutil ou a igualdade entre pessoa pensante e objeto pensado persiste, como acontece no sonho, em que o sonhador e seu mundo sonhado com respectivos personagens de sonho são apenas o próprio estofo mental do sonhador manifestando-se de um modo peculiar. Portanto tudo o que o sujeito dito lógico-racional e bem pensante disser a respeito do objeto e respectiva constatação, tudo isso será apenas uma extrojeção sutil de seu fundo mental ou de seu Campo de Consciência sensorial, desde onde as coisas e os seres mentais se fazem presentes. Como se não bastassem todas essas extrojeções dependentes, nosso observador cientista, graças ao seu discurso ou pensamentos discursivos, ainda consegue dar para a sua coisa reconstruída ou engendrada as devidas explicações e desculpas da lógica-razão, "provando" assim a validade de seus engendramentos.
Mas se esses engendramentos forem benéficos, como uma preciosa obra de arte acrescentada à natureza, nada contra, ao contrário, bem vinda seja. Mas se tais engendramentos somente forem conspurcar e corromper a natureza e a humanidade, e principalmente prejudicar o homem, deverão ou deveriam ser proibidos. Dos estragos do mal pensar dos cientistas e do seu atuar propositado conseqüente, até hoje ninguém proibiu e ninguém se deu conta. Nesse mal pensar e péssimo agir propositado, a ciência moderna e pretensamente laboratorial têm total carta branca, principalmente a ciência biológica, e os estragos aí são terríveis. Gente isso não pode continuar!
Os Mestres orientais salientam que só há duas maneiras de conhecer: ou SENTIR ou PENSAR. Há pois o modo direto, em que o SENTIR-SABER-INTUIR (sujeito verdadeiro) casa ou se funde ou comunga com o ISTO, (o objeto verdadeiro), sem romper a Não-Dualidade primordial. Ou então também há o pensar ou o conhecimento indireto, adotado no Ocidente, desde a época de Aristóteles, e modernamente falando há o conhecimento indiretíssimo, introduzido pela ciência moderna, a partir de sua sensibilidade restrita ao olho e aos telescópios e microscópios, apenas. No conhecimento indireto parece haver uma pessoa pensante aqui, um objeto pensado lá e de por meio uma possibilidade de conhecer, que quando bem elaborada é chamada lógica-razão-raciocínio, mas quando confusa é chamada pensamento mágico do analfabeto. Deste pretenso trio totalmente interdependentes fazem parte também os cincos sentidos já completamente desvirtuados e condicionados, mais a mente personificada que a ciência transformou em cérebro. Nesta pessoa pensante, objeto pensado, possibilidade de conhecer, mal pensando, nestes sentidos condicionados e nesta mente já personificada há mais mal pensar do que a Verdades em Si ou ISTO.
As verdades mais puras da vida ou da natureza só são captadas ou comungadas num Conhecimento Direto, porque o conhecedor aí é autêntico.
Isto é, Ele é SABER-SENTIR-INTUIR. No conhecimento indiretíssimo da ciência só há enxergar ou mal ver e pensar, enxergar e pensar esses que aliás se confundem e interdependem totalmente.
Além disso, nesse tipo de constatação totalmente científica entra também e infalivelmente a necessidade de executar o ato intencional, o grande consubstanciador ou materializador de lorotas pensadas e extrojetadas.
No conhecimento indiretíssimo que a ciência biológica e a ciência astronômica adotaram não existe quase nada do objeto ou da verdadeira objetividade ou ISTO. Há somente mal ver ou enxergar, pensar e executar o ato de modo intencional. Por meio do conhecimento indireto do povo em geral e por meio do conhecimento indiretíssimo da ciência, (ambos inferenciais) o homem, externamente, só se depara com aparências, reconstruções, ilusões ou Maya, conforme dizem os orientais. Quando vinga o conhecimento indireto do povo em geral e de certos cientistas também – sim, pois atualmente a maioria dos cientistas está ligada aos enfoques astronômicos e microbiológicos, onde todos eles arrotam grosso, graças ao conhecimento indiretíssimo – os sábios orientais alertam que nossos sentidos aí só captam e constatam Maya (ou a ilusão, as aparências), que é aquilo que o nosso fantasmagórico cérebro “capta”, interpreta e traduz., A pretensa mente pensante, como nela prevalece o ego, com este prevalece também a ignorância primordial (Avidya). E por sua vez, tal mente, ao invés de Saber-Sentir-Intuir, faz vingar o mal pensar, com todas as suas mazelas e más conseqüências. A ignorância-ego-desejo aí prevalecerá absoluta.
Se esta falsa ego-pessoa pensante pretende conhecer o dado externo, o mundo, digamos, ela, sem dar-se conta disso, acabará utilizando como instrumento do conhecimento o próprio Avidya (ignorância primeva). E todo objeto que estiver na sua frente transmutar-se-á em Maya, em aparências. O pretenso conhecedor pensante portanto tem dois inimigos, o fantasma externo chamado Maya (e não mundo ou universo científico) e o fantasma interno chamado Avidya, nunca inteligência e criatividade.
Se no homem não prevalecer o autotoconhecimento, a reta percepção, a reta cognição, a reta compreensão, ele sempre ficará restrito ao conhecimentos indiretos e indiretíssimos.
Só o Autoconhecimento e o Conhecimento Direto é que podem ajudar e libertar o homem. A lógica-razão, o intelecto, o raciocínio, a memória, a imaginação (quando exacerbadas) ao extremo, mais a sagacidade, a astúcia intelectual, a inflação matemática são o lixo da mente. Tudo isso resulta em Geração Condicionada, tudo isso a reforça.
E mais, a Geração Incondicionada ou Autonatureza nos escapa porque tanto o demônio externo ou Demiurgo miserável quanto o ego-pensamento em todo homem não deixam que o homem venha a conhecer com perfeição. A Geração Incondicionada surge espontaneamente Aqui e Agora, e é o que é. Aqui Sujeito-Ser e Objeto-Ser são o que são, livres harmônicos, amorosos, espontâneos etc.
A lógica-razão, quando a partir do segundo momento em diante se levanta e se intromete, graças ao Avidya Primordial ou Ignorância, essa mesma lógica-razão esconde a Verdade ou a Geração Incondicionada. No lugar do que escondeu, ela coloca ou superpõe seus próprios frutos, em suma reconstrói distorções e fantasmagorias. E em terceiro lugar o pensamento ou a lógica-razão primordial no lugar da Não-Dualidade – verdadeira Unidade – coloca uma falsa pessoa pensante de um lado e um falso objeto ou mundo pensado do outro. E em quarto lugar,. Não bastassem todos esses estragos suscitados pela ignorância-desejo (ou avidya) e pelos pensamentos estruturantes, estes últimos ainda se desdobram em pensamentos discursivos e começam a arrazoar, a conversar, a raciocinar, a explicar, justificando todas as intromissões e distorções que fizeram.

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