quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

ORIENTALISMO – 4) A TRÍPLICE CRENÇA

Em meu livro inédito, há mais de vinte anos, PRISÃO DO TEMPO, o falso ente em cada um de “nos” ou ego parece subsistir e engrandecer-se porque, em termos discursivos e para seu próprio proveito, inventou a tríplice crença que o mantém seguro, “confortavelmente preso” ao seu próprio cárcere: que é a Ronda Existencial (ou Samsara), ou as Trevas Exteriores ou então a Prisão do Tempo.
A tríplice crença que o ego sempre alimenta assim se sintetiza:

a) Crer na suposta virtude libertadora das práticas ascéticas ou místicas; crer no cultivo da fé cega, que nos leva à falsa humildade, ao medo e à submissão; e aceitar fanaticamente um “Ele”, deus-persona”, objetivado, separado da Vida fluindo, e escondido nos confins do Universo.
b) Crer num “eu” verdadeiro, de preferência cerebral ou até mesmo anímico; a tal ego identificar-se e a ele apegar-se de modo quase insuperável, esteja tal ego restrito a um corpo pretensamente material, com cérebro e tudo o mais, ou pretenda tal ego corresponder a uma alma pensante-pensada, que influenciaria e dirigiria um nome-forma (ou um corpo qualquer). Com a aceitação definitiva do ego, depois teremos a concepção de vida corporal única e contínua, com aniquilamento final (materialismo) ou teremos supostas sobrevivências no “mais-além”. Aqui teremos a concepção da alma única com vida única e sobrevivência no além em paraísos ou inferno. E teremos também uma alma única pretensamente persistente e reencarnante, e que retorna para supostos corpos materiais diferentes. Essa alma de vida única ou de vidas sucessivas é tida como eterna.
c) Crer que a Libertação Existencial ou a Iluminação, a Realização (Ressurreição) pode ser alcançada por uma ascese espiritual, ou senão por meio do cultivo do conhecimento vulgar e da especulação filosófico-racional, quando o extravio aparente se dá exatamente por causa desse fútil “querer (mal) conhecer”, que é um péssimo pensar.

Essa Tríplice Crença transforma-se em alimento e em sustento para o ego e para todos aqueles que, acreditando durar, buscam se tornar cada vez mais egos, tentando se engrandecer ou materialmente, ou animicamente, ou até mesmo culturalmente.
Dando-se conta desse doloroso engano, o Sidharta Gautama histórico, o grande Buda, Mestre incomparável, quando se Iluminou teria exclamado o que vem a seguir.

Repetimos então o que tal Mestre, no Instante de sua Iluminação teria dito:

“…[Visto nunca ter parado de mal pensar], errava eu no caminho sem fim dos múltiplos renascimentos (‘Samsara’), procurando inutilmente [a partir de meu próprio nível pensante, ou segundo momento em diante], o arquiteto do edifício [ou melhor, o aparente engendrador de meu corpo reconhecível e de minha alma-pessoa, pensante-pensada]. Ai que terrível tormento ter que renascer sempre, [em pensamento], desta ou daquela maneira! Ó arquiteto do edifício, descobri-te! [… Ó ego, ó sombra da Vida consegui surpreender-te em teu próprio tempo, elaborando a farsa que superpões à Verdade!]. Aqui e Agora, ó arquiteto [do corpo] não mais reconstruirás o edifício [corpo]. As traves estão todas quebradas! [ou seja as intenções e decisões]. A cumeeira do edifício esta destruída [ou a ignorância-desejo]! E este pensamento perdeu as suas possibilidades estruturantes e discursivas. Extinguiu-se, e com ele todas as sedes que o alimentavam!…, [ó bandido, já nada mais conseguirás superpor!…]”

E sempre a propósito, em meu livro inédito JESUS, MESSIAS OU FILHO DO HOMEM, o grande Jesus Cristo disse algo parecido ao que Buda, acima, exclamou um dia, (ver o que em tal livro transcrevi: "Se o Pai de Família soubesse a que hora..."). Ademais, em pleno Deserto da Vida e um pouco antes de alcançar a Iluminação máxima ou a Plenitude Religiosa (Religar-se ao Pai), Jesus também disse palavras que se aproximam das de Buda, a Luz da Ásia.
O Mestre da Galiléia, figuradamente falando, confrontou-se com o príncipe deste Mundo (ou com o Demiurgo-Adversário, ou também o ego grupal, o ego coletivo) e aí Jesus foi tentado para que permanecesse preso à impressão e convicção de mundo. Tal "tentação" visava manter o Mestre da Galiléia submisso ao ego-adversário e ao mundo. Mas graças à Lucidez, à Espiritualidade e à Inteligência de Jesus, travou-se uma batalha, um notável diálogo entre a Sabedoria e a ignorância adversa e personificada, diálogo que poucos entenderam e que consta nos Evangelhos atribuídos a Mateus e a Lucas.
De minha parte, compilei e refiz tais passagens, visando aclarar o seu significado ambíguo e as transcrevi em meu livro Cristo, Esse Desconhecido (Edit. Record S/A) e também em mais dois outros livros inéditos Jesus sem Cruz e Jesus, Messias ou Filho do Homem, trechos esses que agora reproduzo abaixo e que se encaixam perfeitamente bem em tudo aquilo que estou tratando. Tais passagens de meus livros assim rezam:

E chegou-se a Jesus, o ‘Adversário’ [o Demiurgo, objetivamente personificado como o Príncipe deste Mundo e ignorantemente transformado num fantoche que o judaísmo-cristianismo chamou Satanás], que lhe disse: Se tu és verdadeiramente Filho de Deus, [UNO com Ele e com todo o Resto], diz e então a esta pedra que se transforme em pão! Jesus, porém, respondendo, disse:
Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus,
[ou vivera de toda a Verdade que de Deus promana!’ – Ademais, farsante, se tudo é Deus e se EU e o PAI somos UM, por que haveria de dizer a Mim mesmo {ou “Isto” pedra} que se transforme em Mim mesmo {ou “Isto” pão}? Só para dar-te uma prova do meu poder? E se Eu e o Pai somos Verdade, por que a Verdade deveria dar satisfações à mentira e a usurpação que tu és? Sim o Poder estraçalhador e corruptor das criaturas é teu, mas a Liberdade é minha!
Ouve, ó mentiroso! Se por meio do Poder te provo alguma coisa, torno-me mentira como tu! A Verdade não pode fazer o jogo da ilusão sob pena de tornar-se ilusão também. Sabes muito bem que o Pai abomina o Poder que tu exerces tão malignamente. Não queiras me enganar, ó ego-adversário!]
Então o ‘Adversário’ transportou Jesus a Jerusalém e o colocou sobre o pináculo do Templo.
E disse-lhe
(o bandido): Se tu és Filho de Deus [Uno com o Pai e UNO com o resto], lança-te daqui abaixo; [pois não são os Profetas que dizem]: ‘Porque aos seus intermediários [anjos] dará ordens a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. E tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra!…’
Retrucou-lhe Jesus: [
já que és a própria memória feita pessoa, já que és o próprio tempo, sabe] que também está escrito, [ó astuto]:
‘Não tentarás [desvirtuar a Criação ou enganar] o Senhor, teu Deus!’
…(E o Adversário, personificando o Príncipe deste mundo, ainda disse a Jesus): Sai daqui e vai então para [o mundo] para que [todos] vejam as obras que fazes. Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize suas obras em oculto. Se fazes estas coisas (ou maravilhas), manifesta-te ao mundo!… Respondeu-lhe então Jesus: Meu tempo [ou o meu Agora vivificador] ainda não chegou [ou não se Manifestou], mas o teu tempo [aparentemente continuo, tempo de mentiras e trapaças] sempre está pronto ou presente. [É graças a esse tempo, ó Demiurgo homicida, ladrão e salteador, que tu te reforças e te perpetuas]. O mundo não pode odiar-te [porque tu o manipulas)] mas a mim o mundo me odeia, porque eu dou testemunho de que as suas obras são más, [por causa da tua interferência]!…
E novamente o 'Adversário' transportou Jesus [de volta] ao deserto; e mostrou-lhe num momento de tempo [ou de modo instantâneo] todos os reinos do mundo. – [Como sucede na morte ou no desencarne e como convém ao ego. Aqui o Demiurgo recorre a um tempo quase instantâneo, e não a um tempo pretensamente contínuo, como de hábito]. – E disse-lhe: Dar-te-ei a ti todo este poder e a sua glória porque a mim, príncipe deste mundo, me foi entregue, e dou-o a quem quero; Por conseguinte, se prostrado tu me adorares, tudo será teu! E Jesus respondendo, disse-lhe: [Farsante e mentiroso! Nada na Vida te foi dado. Tudo o que dizes ser teu foi roubado, foi deturpado e refeito por ti! De mais a mais, a que me servem os teus reinos de trevas {memória-raciocínio imaginação} e os teus mundos reconstruídos, saturados de mentira e dor’.? Que poder e glória poderias me dar senão o que furtas de Deus- Pai, para teu próprio proveito? Ó ajuntador de ‘resíduos ineficazes’, que poder podes ter, sem a Luz do Pai, sendo tu mera sombra!?] Portanto, ‘vade retrum Satanás’ [ou vem após Mim, ou ainda, vem atrás de ‘EU SOU’, ego-adversário, e não te coloques mais na frente, como costumas fazer na condição de pensamento-razão!]. Ademais, amarás também o Senhor teu Deus, e só a Ele serviras! Silencia-te, pois, [ego-pensamento adverso e] farsante e sabe que ‘EU SOU DEUS!…”

Pois é, amigo, quem diria que esses dois grandes Mestres e Santos (Buda e Jesus) possam nos ter deixado ensinos tão importantes, e que lamentavelmente quase nunca foram compreendidos!

Mas voltando ao tema central, a duração temporal, como já disse depende das reconstruções da mente condicionada. Quando o homem inteligente deixa de alimentar o encadeamento mental (Pratytiasamutpada ou Geração Condicionada), começa a Perceber ou a Dar-se Conta de que as experiências que nele mesmo e diante de si (mundo aparente) se sucedem são puramente contíguas e não contínua. Percebe que os engates das experiências mundanas não estão totalmente soldados entre si e podem ser rompidos. E graças a um Dar-se Canta e a um Sábio Perceber, as causas e efeitos de tudo isso deixam então de se concatenar. O buscador fica, portanto, livre de toda e qualquer reconstrução temporal. Transcende por assim dizer a falsa temporalidade e o Homem (Divya, Deus Vivo) volta à condição de Existência Primeva, Intemporal.
Bastaria, pois, parar com o fluxo dos desejos para que as reconstruções que condicionam a mente e que redundam em falsa percepção e reconhecimentos se reduzissem a nada; e com elas o tempo e sua pretensa duração linearmente infinita, tempo que é apenas um aspecto desse fluxo. E a propósito ainda, disse um dia Sidharta Gautama (Buda) a seu filho Rahula, depois de longos anos de separação.

“(Filho), perceberás de modo vivenciado a Salvação. Verás a Liberdade e, graças a essa Visão Pura, o desejo e o apego que tinhas pelos cinco tipos de apropriação te deixarão. Depois para ti mesmo te dirás: ‘Que loucura, que pesadelo! Longo tempo fui aviltado, enganado, envenenado e posto a perder pelo pensamento em mim! Alimentava-me absorvendo a forma, absorvendo as sensações contaminadas, deixando-me envolver pelas concepções dos pensamentos vulgares e pelas percepções da falsa consciência!’ Assim, (ó filho), pode-se dizer que por causa de todo esse alimento, o vir-a-ser parece existir, e por causa do vir-a-ser, o nascimento pensado e inferido existe, por causa do nascimento inferido passam a prevalecer a doença pensada, a decadência, a velhice e a morte. Esta última ou a morte só e sempre se infere nos demais, sem esquecer o desespero aqui e no além e os absurdos renascimentos… E assim nasce, ó irmãos meus, toda essa massa de dor inútil!… (e que o homem não precisaria experimentar com tanta agonia)”



ORIENTALISMO – 3) ACONTECE MESMO A EXTINÇÃO DEFINITIVA DAS COISAS E SERES?

Em meu livro ainda inédito, (lamentavelmente ou), Ladrão e Salteador da Mente Humana, escrevi a respeito do não-começo, da não-origem das coisas e seres. Agora iremos ver quão mentiroso também é o fim, a extinção temporal, definitiva e absoluta das coisas e seres.

Quem em termos filosóficos-científicos sempre acreditou estar vivendo num mundo concreto, “absolutamente Real”, onde tudo parece ter tido um começo, onde tudo parece estar tendo um meio termo em evolução e aperfeiçoamento, além de um fim, onde o tempo parece prolongar-se para infinitos amanhãs, e o onde capcioso espaço se estenderia para um limite infinito, esse se engana. Sim porque em tal constatação, nosso pródigo lucubrador nunca se apercebeu de estar sendo enganado por seu próprio discurso (pensamento mágico, pensamento lógico), e por um falso conhecer, falso perceber, “ficar cônscio de” que é só e sempre reconhecer.

Para qualquer ego-pensante, tão precário e tão desconhecedor da Verdadeira Sabedoria, a pretensa extinção definitiva das coisas e seres implantou-se como um fato inevitável e insuplantável.
O mundo cotidiano reconstruído, a falsa natureza superposta, tão bem “fundamentada” pela ciência acadêmica, mais o falso tempo-espaço, visto que se nos apresentam de modo objetivado e persistente, lá pelas tantas, poderão desaparecer de diante de nós, forçosamente, para nunca mais voltar, como costuma dizer a tradição, e inclusive manda. Em face dessas circunstâncias quase irrefutáveis, o raciocínio enganador, começa então a falar em extinção e anulação absoluta das coisas e seres.

Ai, amigo, como todos nós nos comprazemos em mal pensar e em mal concluir! Sim, porque o falso mundo futuro e que o próprio pensamento extrojeta também é sinônimo de morte, de aniquilação ou fim de tudo.
Entretanto, paradoxos dos paradoxos, a maior parte de nossos atos intencionais geralmente são desencadeados, visando nos preservar desse inevitável futuro e desenlace pensado, aparentemente inevitável.

O fim da falsa vida que o Demiurgo e o ego implantaram, fim que sempre suscita terror, é um fruto amargo e doloroso que só o corpo denso experimenta no espaço e no tempo, a nossa prisão.
Sem nada impor, sugira-se que outros corpos menos ou mais densos aparecem, sim, que outros espaços e tempos também passam a prevalecer, em consonância com outros modos de pensar e agir.

Mas fora isso, convém salientar que Aqui e Agora já somos. Todavia descentralizando-nos do Eclodir Vital que também somos Agora, mal pensando e delirando, desviamos de algum modo reflexos de nossa própria Luz Vital e a entregamos aos “molochs” temporais e objetivados (ego o demônio interior, e Demiurgo, o aparente demônio externo) , os quais, depois (tempo) acabam nos devorando impiedosamente. E como se esse desvario já não bastasse, sempre raciocinando, ainda rebatizamos esses monstros avassaladores com palavras capciosas, tipo “progresso”, “civilização”, “evolução”, “aprimoramento científico, filosófico e religioso”.

Quantos terminam morrendo de fome, de exaustão, de doenças insidiosas, de desespero, num hoje aparente e falsamente contínuo para que os “egos-molochs” do Estado, da tecnocracia, do mercantilismo, da guerra, da automatização, da falsa religiosidade, da ganância inescrupulosa e indecente, e da destruição – tudo isso dirigido por essa pequena minoria da anti-humana raça, os quais não param de progredir em direção a um glorioso nada!
E já que a lógica-razão, tacanhamente positiva, com seu “habitual maquinar mental” (raciocínios) nos obriga a que atuemos de modo mesquinho e egoísta, para precavermo-nos de uma hipotética morte ou extinção iminente, vejamos o que o grande sábio budista Nagarjuna (II d.C.) e uma Lógica Extremada e Autofágica (criação nossa) , a vassoura do lixo mental, nos oferecem a título de alerta.

“Quando é que algo [“Isto-Sentir”] poderia se extinguir? Quando existe eficazmente? Não, evidentemente! Quando não existe? Tampouco, é claro! E quando algo então se aniquilará, se não se extingue nem quando existe eficazmente nem quando não existe?”

Amigo, o fim ou a pretensa extinção definitiva, absoluta das coisas e seres não poderia ser apenas outra extraordinária mentira epístemo-psicológica?
Sim, pois, é a memória-raciocínio-imaginação que – ou pensamentos estruturantes, pensamentos discursivos – superpõe tal fim, tal extinção ao Autenticamente REAL, já que o que é sempre novo, sem começo nem fim, só fulgura, mas não perdura nem se aniquila.

E como já alertei, meu caro amigo, a origem, a duração e a morte das coisas e dos seres, e que o conhecimento superficial, mágico ou até mesmo lógico-racional tornou insuperáveis, revelam-se totalmente ilusórios a uma compreensão e vivência mais profunda. Tudo isso possui a realidade do espelhismo, ou senão equivaleria aos “cornos” de uma lebre.
Muito a propósito, Nagarjuna volta a alertar:

Aqueles que [pensando] acreditam assistir ao nascimento das coisas e seres, em verdade contemplam o começo da vida do filho da mulher estéril.
Aqueles que [envolvidos por um sentimentalismo piegas e arrastados por conclusões fúteis] choram a morte definitiva das coisas e seres, em realidade são como os que choram a morte do filho da mulher estéril. Os que realmente Compreendem a Verdade não se espantam quando surpreendem a falaciosidade do nascimento, da velhice e da morte…

A trindade do nascimento, velhice e morte só prevalece de modo insuperável ou fatal nas trevas exteriores ou no domínio da memória-raciocínio-imaginação, no domínio do espaço-tempo. Isso não passa de discursos e a imagens caducas muito bem sustentadas. É a partir da memória-raciocínio-imaginação que o pensamento consegue superpor e objetivar suas mentiras estáticas e persistentes, as quais ofuscam a Verdade dinâmica e sempre renovada do “Isto-Sentir”.
E Nagarjuna diz mais:

O nascimento [pensado e reconhecível] não pode ocorrer sem a velhice e a morte [pensadas e reconhecíveis]. Sim, pois, [quando o pensamento interfere],tudo o que nasce tem de morrer. Se nascimento, velhice e morte ocorressem verdadeiramente, de modo persistente e separado, [como qualquer um, raciocinando jura concluir], eles equivaleriam então a um nascimento permanente, a uma velhice permanente, a uma morte insuplantável e permanente. E aí teríamos um nascimento sem velhice, e sem morte, ou teríamos uma velhice sem nascimento nem morte, ou ainda uma morte sem nascimento nem velhice…”[Amigo, cuidado com teu ego, pois isso não é sofisma, amigos!].

Essas alternativas plausíveis, o pensamento em todos nós esconde ou não as revela, como estou fazendo, porque não lhe convém. E Nagarjuna acrescenta.

“Todavia, uma lógica-razão [capenga] não concebe um nascimento sem velhice nem morte, porque o nascimento [a respeito do qual se pensa] de modo fatal e aparente só pode vir acompanhado pela velhice e pela morte. [Tese ‘A’]”.

Mas já que se cogita ou se raciocina à toa, o argumento contrário também deveria ter a mesma e pretensa validade do primeiro, e nesse caso, então, o nascimento ou simplesmente a Vida tampouco se concebe com velhice e morte. [Tese ‘B’].

E pensar por pensar, quem é que mente mais, o raciocínio ‘A’ ou o raciocínio ‘B’? Provavelmente ambos mentem… Mas por que o juízo ‘A’ (raciocínio) deveria ter tanta força em nossa mente, a ponto de nos condicionar de modo quase irreversível, levando-nos a reconhecer pretensas ocorrências objetivadas (o desenlace de alguém) sempre como insuplantáveis, irreversíveis, enquanto que encaramos o julgamento ‘B’ como infundado, como algo não digno de confiança?

Que ego é esse em nós que acredita, e que ego é esse em nós que duvida, desconfia? E de onde tal ego retirou critérios de autenticidade, de verdade insofismável, para acreditar, desconfiar, duvidar? Sendo o ego o pai da mentira, que honestidade pode ter em seu crer e descrer?

E visto que o raciocínio ‘A’ é todo poderoso, só porque alega que está descrevendo fatos reais e objetivados, mesmo que bem ou mal se pense, deveríamos nos habituar a Entender algo mais. Deveríamos Saber que para uma Vida livre de reconstruções não há nascimento, nem velhice nem morte, mas apenas, quem sabe, um Surgir Vital, que se renova a todo momento, e que no viver cotidiano parece não prevalecer...

E se o pensamento ‘A’ reconhece e descreve fatos pretensamente reais e objetivados, com tanta facilidade, por que não desconfiarmos também que é ele mesmo quem forja esses pretensos fatos superpostos e depois os reconhece tão bem e com tanta loquacidade fingida!

Para que tanta hipocrisia, se a única realidade que finalmente vinga para a tese ‘A’ é a dor que sentimos, é o angustiante vazio ou ausência do ser querido, e é o medo de nós morrermos também. No entanto, se a tese ‘B’ se tornasse um fato cotidiano, um fato plausível seria mais do que uma alegria; equivaleria à imortalidade e à plenitude total. Mas a lógica-razão não quer; ao contrário, diz que a morte é inexorável e que tal outra possibilidade de viver é coisa de seres delirantes!
E Nagarjuna volta a alertar:

O nascimento [pensado] implica a morte e a morte [a respeito da qual se raciocina] implica nascimento ou renascimento… Todavia, o nascimento [dito corporal, dito físico, se fosse algo verdadeiro, eficaz, se equivalesse ao eclodir de Algo Real ou a um Fato em Si que o pensamento não macula] não poderia resultar em morte, [porquanto se fosse algo eficaz, algo absolutamente verdadeiro, não poderia ser contraditório, ou não poderia corresponder a uma dupla situação ‘A’{nascimento} e ‘B’ {morte}, ao mesmo tempo; em suma, não poderia ser nascimento-e-morte]. Se o nascimento implica morte, não é nascimento, e essa morte acaba resultando em (re)nascimento, não é morte.
De outro lado,
[sempre dentro das brincadeiras do todo poderoso raciocínio humano], o nascimento [pensado] dificilmente deixaria de implicar morte, porque se deixasse de implicar morte, seria nascimento eterno, e se é algo eterno, como alguém (ego) poderia afirmar que ele é nascimento ou o começo de uma vida?
[Malgrado as mentiras habituais] tenham ou não tenham nascimento as coisas e seres, [diante de uma Verdade Absoluta, impensável e incomunicável, sugira-se que] não há vida nem morte das coisas e seres. [Os Aqui e Agora da Vida, os Momentos Reais e descontínuos da Manifestação, o Fulgurar de Tudo, não são nem vida condicionada nem morte pensada].
Daquilo que Existe ou que É, não se pode dizer que nasce, que envelhece e que morre.
[E se pensando considerarmos as coisas e seres de modo estático, persistente, contínuo, imutável, então] não poderá haver movimento, deslocamento [ou cinemática e inclusive]; não haveria mudança nas coisas e seres.
[O discurso interior, porque diz constatar, quando em verdade só reconhece], afirma o nascimento, a velhice e a morte; todavia, [diante da Verdade silenciosa e impensável], impossível é nascer e impossível é morrer.
[E quando se pensa], impossível será então viver sem nascer e morrer. [Em todo caso, o raciocínio só não nos sugere que sob o seu predomínio], também é impossível viver se se nasce e se morre.
[E Nagarjuna conclui]: diante da Verdade indescritível e impensável, o ciclo das existências condicionadas [‘samsara’], as enfermidades, a velhice e a morte são ilusórias como as flores do céu. Em realidade, as cidades do mundo estão totalmente desertas [de egos] como as necrópoles ou cemitérios…”


Se o nascimento dito corporal, dito físico do nenê fosse algo absolutamente verdadeiro em si, se fosse eficaz, se equivalesse ao eclodir de Algo Absolutamente Real, ao eclodir de a um Fato em Si. E se o pensamento não conseguisse macular tal nascimento para que se nos apresente apenas como um começo e como uma presença objetivada para os pais, um nascimento assim para o nenê seria igual a uma Vivência, e ele-(EU) não ficaria inconsciente como costuma acontecer. O EU-nenê seria Plenitude em Renovação.

O Surgir da Vida ou o nosso Verdadeiro Nascimento não poderia ser contraditório, encerrando uma dupla situação pensada que é exatamente o nascimento e a morte. Se tal nascimento implica morte, não é nascimento, e essa morte acaba resultando em (re)nascimento, não é morte é renascimento.

Portanto, o homem não nasce necessariamente quando sai do útero da mãe. O que nasce aí é o ele-nenê, é o objeto querido dos país. Este objeto querido depois se permuta no EU-nenê-SER, lamentavelmente acompanhado por um ego que logo se introduz em tal corpo. Esse ego reintrante não morre com o desencarne, sobrevive num mais além pensante-pensado e fica aguardando a possibilidade de se reintroduzir em um Corpo Novo Manifesto pela Vida.
O Ser Eterno com um Corpo Novo ou Eu-nenê não começa nem termina. Aqui e Agora é um SER em Renovação.

O que nasce ou começa é o ele-nenê ou é o ele-corpo que os pais tocam e abraçam. O EU Verdadeiro sim está Manifesto no nenê, mas ainda não está presente como sensciência. A seguir nesse ele-corpo, o EU-SER também fica mais evidente. Mas um feixe-ego de pensamentos pretensamente reencarnante também se introduz feito uma sombra d’Aquele, e por isso se diz que o ego ressurge ou reencarna.
Há situações em que tal feixe-ego-pensamentos se introduz antes, e pode inclusive provocar deformações no corpo que não lhe pertence, e isso por causa de justas respostas cármicas. E aí o nenê pode nascer aleijado. Em suma, o Homem não nasce a partir do útero da mãe, o que nasce aí é o ele-nenê ou o objeto querido dos pais.
o.

ORIENTALISMO – 2) OS COMEÇOS, MEIOS E FINS TEMPORAIS SÃO ENGANADORES

E a propósito do nascimento aparente e da morte mais aparente ainda, em meu livro Senhor do Yoga e da Mente, editado, transcrevi e adaptei a seguinte passagem, a qual, aliás, de certo modo, vem ao encontro de tudo aquilo que Nagarjuna, o grande sábio budista costuma dizer:
Aquilo que o homem chama de seu nascimento e morte corporal é só e sempre inferido. [Ou seja, o nascimento corporal só pode ser pressuposto como um fato que já passou e a morte como algo que ainda não aconteceu. Nunca porém se pressupõe, se infere o que Agora se Vive e se Sente]. Se o nascimento e a morte do corpo Aqui e Agora fossem vivenciados, não seriam nem nascimentos nem morte reconhecíveis. Seriam simples Vivências. O falso nascimento que supomos ter, se infere a partir do próprio filho, cujo corpo objetivado quase sempre se vê nascer assim; daí dizer-se que o Homem Comum também nasce desse modo. A falsa morte se infere a partir do próprio pai, que os seres quase sempre vêem desencarnar, daí inferir-se que o Homem Comum também vai morrer assim. Todavia, a Testemunha Perfeita, o Homem Verdadeiro ou Deus Vivo no Homem, não se deixa afetar por nenhuma aparência, nenhuma objetividade ou ser externo, que parece nascer e morrer. SÓ NA CONDIÇÃO DE OBJETO, O HOMEM PARECE NASCER E MORRER. Como Consciência-EU, autêntica, sensível, inteligente e atuante, nunca porém pensante-pensada, o HOMEM [Ser, Deus Vivo,’ Sunya’] não nasce nem morre.”
Nossa maneira de pensar, além de nos obrigar a aceitar a extinção definitiva das coisas e seres, feita uma fatalidade inexorável, ainda implanta a impressão-convicção de começo de tudo,de meio e fim, além do ego em todos nós nos “roubar e desvirtuar” o Ato Puro.
Se este Ato Puro, a modo de dizer, não virasse ato intencional, e se este Ato em Si pudesse se Manifestar tal e qual, a Vida acabaria se apresentando de uma maneira totalmente harmônica, livre do falso começo, do falso meio e falso fim, ou da falsa vida e falsa morte.
Mas por causa dessa impressão-convicção, intrometeram-se as insuplantáveis e falsas certezas de continuidade, separatismo, materialismo, com seu começo, meio e fim. E daqui por diante, todos os nossos esforços apenas se desdobrarão para evitar uma morte inevitável, um desencarne futuro, morte que, por causa dos bloqueios demiúrgicos entre o além e o aquém, o intelecto de alguns traduzirá como aniquilação.
Senão isso, gastaremos boa parte de nossa Vitalidade ou energia para evitar uma anulação ou extinção que finalmente não se dá. Ou ainda, tentaremos eliminar, matar aquilo ou aquele que pressupomos ser uma causa de nosso aniquilamento iminente ou futuro, pretensamente definitivos.
Por fim, não pouparemos esforços para garantir maior permanência ou continuidade a isso que chamamos corpo denso, corpo material e sempre o reconhecemos como tal.
A canalhice de nosso próprio ego, do Demiurgo e dos mentirosos “espíritos” do além (alguns, é claro, cuidado) é tamanha, que bloqueiam qualquer possibilidade de o homem daqui conseguir se comunicar com seus entes queridos desencarnados, transferidos à força para o além, para o posmorte ou outros planos. Ou se via mediunidade tal contato e comunicação acontecem, é de uma pobreza tal que praticamente só ilude e quase nada aclara e consola.
Santo Deus, e que desgastantes lutas encetamos para extinguir os supostos males (pensados) que pretensamente nos afetam!
E, no entanto, quanto mais se luta para eliminar o que julgamos mau e pernicioso (doença), mais esse hipotético inimigo se reforça. Mas e, por que?
Porque todo fim, toda extinção é uma falácia que, a caro custo, só vinga como uma situação refeita, superposta.
A vida dita orgânica e material ou a vida organizada por pretensas células e moléculas em verdade só encerra fantasmas e mais fantasmas, que o pensamento afirma e nega e que subsistirão graças ao nosso descuido, graças ao nosso mal pensar, pai de todos esses fantasmas. E subsistirão também e principalmente graças à execução do ato intencional.
Todas as manobras preventivas do homem equivalem a por a Lei da Geração Condicionada em funcionamento. Isto sendo, em pensamento, aquilo aparece, acontece, se objetiva, se sobrepõe, se para tal se executa o ato intencional. Isto não sendo pensado, aquilo não aparece, não se objetiva, não se sobrepõe.
E a propósito, haverá fantasmas piores do que os cânceres, as leucemias, a AIDS etc?
Nada começa, nada se origina em termos REAIS, e também nada termina, tudo se Manifesta como Novidade, sem começo nem fim. Mas ó Deus, quantos e quantos fantasmas se sobrepõem!
Nesse caso, portanto, todo fim, toda extinção do mal ocorre tão-somente num faz-de-conta e num nível pensante-pensado. Tanto o pretenso começo enganador de algo, quanto sua falsa extinção são regidas pela Lei da Geração Condicionada e pela da Lei da Interdependência. E essa pretensa extinção não faz desaparecer um pretenso fantasma, sempre pensado; apenas o transfere, o reformula ou o transforma em algo mais.
Daí a medicina científica, ao lidar só com enganadoras objetividades supostamente materiais e orgânicas – ai meu Deus, que DNA é esse? – mas em verdade sempre pensadas, às vezes é uma calamidade sem par.

Orientalismo – 1) Por que os Sábios de outras Latitudes não Criaram a Ciência Moderna?

Ora, porque para os orientais o modo de pensar dos ocidentais está errado e é enganador. Ademais, para os Sábios orientais, os enfoques, as deduções e induções que a Ciência Moderna estabeleceu, e respectivas condutas, não cabem porque tudo acabará resultando em forjações, em engendramentos, em superposições e em consubstanciação ou concretização de fantasmagorias. Os orientais desde épocas imemoriais sempre souberam que o pensamento é um trapalhão e trapaceiro. É sempre um ótimo criado, mas nunca pode ser um Senhor autêntico. Senhor verdadeiro é somente o SER ou EU SOU, jamais cerebral. Disso tudo eles sempre desconfiaram.
Portanto, transformar o pensamento pretensamente cerebral numa ferramenta lógico-racional impecável – ou num Organon – para captar o mundo e o universo e explicá-los, equacioná-los, transformá-los em Leis, isso sim foi um absurdo completo, e continua sendo. Os Mestres Orientais não aceitam a validez da dualidade lógico-racional e cartesiana. Ou seja de que haja uma pessoa que pensa aqui e haja um objeto lá, que se estende, lá. E esses são os famosos res cogitans e res extensa que Descartes inventou e a ciência aceitou e impôs. Para os Sábios Orientais o Sujeito Verdadeiro e o Objeto também verdadeiro são somente “Sentir” e “Isto” Primevos. E são inabordáveis, inexplicáveis, não equacionáveis e sempre se nos apresentam como NÃO-DUALIDADE. Não são UM ou não são um tipo monismo absolutista, nem são dualismo (sujeito e objeto separados) ou pluralidade conforme a cultura científica do Ocidente. Isto-Sentir ou Sentir-Isto são o que são.
Por conseguinte, não se obsequie total liberdade a que uma parte enganadoramente pensante e falante se meta e opinar a seu próprio respeito e a respeito do objeto que tem pela frente, como o homem ocidental costuma fazer. E se o fizer, que opine sim, mas que fique discretamente com suas opiniões e não tente impô-las a terceiros, a não ser que estes terceiros as queiram. Proíba-se também a esse ego-opinador de atuar em liberdade total, e em conformidade ao que pensou e achou, porquanto tudo o que essa falsa pessoa pensante pensa, isso se objetiva, isso aparece, isso se concretiza, isso se materializa, se para tal for executado o ato propositado ou o ato intencional, relacionado à tal ideação, suposição etc. Sempre em conformidade com a Lei da Geração Condicionada: “Isto sendo, em pensamento, aquilo aparece, acontece, se objetiva, se concretiza, se materializa, se para tal for executado o ato intencional. Isto não sendo pensado, aquilo não aparece, não acontece, porque além de não se pensar, não se atua. Aqui estariam os porque das catástrofes da ciência moderna e suas absurdas e incríveis poluições.
Os bons Mestres orientais nunca se permitiram dar primazia nem à subjetividade discursiva e intelectualizada nem à objetividade pretensamente material e que se estenderia diante do homem. O primeiro plano ou a primazia só cabe ao Homem Verdadeiro, restrito ao Saber-Sentir-Intuir-Atuar-Amar, nunca ao torpe pensar e vulgar raciocinar.
A maior parte dos mestres orientais sempre aplicou em si mesmo o eterno princípio do: "Homem, homem, antes de mais nada conhece-te a ti mesmo. Só depois que te autoconheceres com perfeição saberás o que é o mundo, o que é o universo e quem é Deus. Se não te conheceres Aqui e Agora em profundidade, apenas estarás te reforçando como forjador de ilusões, como extrojetor de fantasmagorias, como ego falastrão e opinador e apenas estarás engendrando fantasmagorias próprias que impingirás ao próximo dizendo que “esta é a maior das descobertas e é a maior das verdades. naturais!" Os Mestres Orientais, não importa se budistas, zenbudistas, taoístas, hinduístas, sabem que nunca houve uma criação inicial no espaço e no começo do pretenso tempo cósmico, nem da parte de um Deus personificado, como o da Bíblia e qualquer outro livro sagrado, nem da parte do deus Acaso da ciência, com seu ridículo Big-Bang, Universo das cordas etc., ou ainda nem da parte de circunstâncias desconhecidas, como alega a ciência moderna. Tais Sábios admitem, isto sim, que as religiões populares de seus países falem em deuses secundários, que a modo de dizer, teriam criado o universo, o mundo, como teriam feito o deus Brahma da Índia ou o Tao personificado da China, mas no fundo sabem que o Absoluto Brahmán, Aqui e Agora, é Existência em Manifestação Pura sem precisar criar coisa nenhuma, o mesmo acontecendo com o Grande TAO, de Laotsé . Para escândalo do cristão ocidental, Jesus da Galiléia também era dessa Divina Corrente Manifestadora ou Emanadora. E a propósito, em nenhuma parte dos Quatro Evangelhos Jesus fala de um Jeová feito um pretenso Criador, quando em verdade é um déspota e senhor dos exércitos ou da violência.
Jesus fala do DEUS AMOR, fala de EU SOU, ou fala do "meu Pai Celestial".
Pois bem. O Pai Celestial de Jesus sim que é o Verdadeiro Deus Vivo que não criou coisa alguma, mas continua se manifestando feito Vida, Aqui e Agora. E curiosamente é o próprio Jesus quem declara: “Meu Pai trabalha até Agora -- isto é, Meu Pai não cessou de se Manifestar e de resultar em Vida -- e EU, Cristo, trabalho também!...” E estas palavras vão muito além do simples mandamento ligado ao Sábado. E portanto, se não houve criação nem da parte de um deus personificado, nem da parte do acaso científico, e sim só há uma Manifestação em Constante Renovação, nada existe oculto, nada pode ser descoberto, nada pode ser decifrado a respeito do mundo e do universo e do próprio homem, porque nada ficou escondido.
E tudo o que se diz descobrir e se diz decifrar em verdade apenas se engendra, se recria, se inventa, se forja, e se extrojeta, se superpõe, para depois maravilhar ou enganar o próximo. É por isso que os orientais três ou quatro mil anos atrás descobriram que a Vida era constituída por duas gerações. Uma Incondicionada, Absoluta, perfeita, harmônica, livre, simplesmente fantástica e outra, SUPERPOSTA E FALSA, recriada pela Demiurgo, engendrada pelo pensamento humano e totalmente condicionada.
Na Geração Incondicionado do Pai Celestial nenhuma Lei física ou moral prevalece a não ser a Lei do mais perfeito Amor. A outra, ou a Geração Condicionada, representada por este nosso mundo cotidiano, pelo mundo que só os cientistas vêem, corresponde aos universos microscópicos, normoscópicos (cotidianos) e macroscópicos ou astronômicos, reinventados pela ciência moderna.
Aqui vinga a Lei da Geração Condicionada, Lei que rege todas as engendrações, distorções e superposições humanas. Aqui também regem a Lei da Interdependência (“Sou eu que te vejo, e vendo-te me vejo, e vendo-me te faço) e a Lei Moral da Ação e Reação ou Lei do Carma. Foi graças à Lei da Geração Condicionada (ou Pratityasamutpada) que todas as demais leis dos homens, científicas, morais, religiosas, judiciais etc.etc. passaram a vingar ou a prevalecer. A Ciência moderna não fez outra coisa senão por a Lei da Geração Condicionada e a Lei da Interdependência em funcionamento como nunca se viu, e isso desde os tempos do abnegado Galileu Galilei do século XVII.
Os Mestres Orientais nunca aceitaram o total separatismo entre o sujeito e o objeto dito material. Sabem por vivência própria que o cordão umbilical que une a pessoa pensante ao objeto pensado não é cortado por nenhuma filosofia dualista , seja a de Aristóteles, de Tomas de Aquino, de Descartes, de Kant, de Hegel etc. A identidade sutil ou a igualdade entre pessoa pensante e objeto pensado persiste, como acontece no sonho, em que o sonhador e seu mundo sonhado com respectivos personagens de sonho são apenas o próprio estofo mental do sonhador manifestando-se de um modo peculiar. Portanto tudo o que o sujeito dito lógico-racional e bem pensante disser a respeito do objeto e respectiva constatação, tudo isso será apenas uma extrojeção sutil de seu fundo mental ou de seu Campo de Consciência sensorial, desde onde as coisas e os seres mentais se fazem presentes. Como se não bastassem todas essas extrojeções dependentes, nosso observador cientista, graças ao seu discurso ou pensamentos discursivos, ainda consegue dar para a sua coisa reconstruída ou engendrada as devidas explicações e desculpas da lógica-razão, "provando" assim a validade de seus engendramentos.
Mas se esses engendramentos forem benéficos, como uma preciosa obra de arte acrescentada à natureza, nada contra, ao contrário, bem vinda seja. Mas se tais engendramentos somente forem conspurcar e corromper a natureza e a humanidade, e principalmente prejudicar o homem, deverão ou deveriam ser proibidos. Dos estragos do mal pensar dos cientistas e do seu atuar propositado conseqüente, até hoje ninguém proibiu e ninguém se deu conta. Nesse mal pensar e péssimo agir propositado, a ciência moderna e pretensamente laboratorial têm total carta branca, principalmente a ciência biológica, e os estragos aí são terríveis. Gente isso não pode continuar!
Os Mestres orientais salientam que só há duas maneiras de conhecer: ou SENTIR ou PENSAR. Há pois o modo direto, em que o SENTIR-SABER-INTUIR (sujeito verdadeiro) casa ou se funde ou comunga com o ISTO, (o objeto verdadeiro), sem romper a Não-Dualidade primordial. Ou então também há o pensar ou o conhecimento indireto, adotado no Ocidente, desde a época de Aristóteles, e modernamente falando há o conhecimento indiretíssimo, introduzido pela ciência moderna, a partir de sua sensibilidade restrita ao olho e aos telescópios e microscópios, apenas. No conhecimento indireto parece haver uma pessoa pensante aqui, um objeto pensado lá e de por meio uma possibilidade de conhecer, que quando bem elaborada é chamada lógica-razão-raciocínio, mas quando confusa é chamada pensamento mágico do analfabeto. Deste pretenso trio totalmente interdependentes fazem parte também os cincos sentidos já completamente desvirtuados e condicionados, mais a mente personificada que a ciência transformou em cérebro. Nesta pessoa pensante, objeto pensado, possibilidade de conhecer, mal pensando, nestes sentidos condicionados e nesta mente já personificada há mais mal pensar do que a Verdades em Si ou ISTO.
As verdades mais puras da vida ou da natureza só são captadas ou comungadas num Conhecimento Direto, porque o conhecedor aí é autêntico.
Isto é, Ele é SABER-SENTIR-INTUIR. No conhecimento indiretíssimo da ciência só há enxergar ou mal ver e pensar, enxergar e pensar esses que aliás se confundem e interdependem totalmente.
Além disso, nesse tipo de constatação totalmente científica entra também e infalivelmente a necessidade de executar o ato intencional, o grande consubstanciador ou materializador de lorotas pensadas e extrojetadas.
No conhecimento indiretíssimo que a ciência biológica e a ciência astronômica adotaram não existe quase nada do objeto ou da verdadeira objetividade ou ISTO. Há somente mal ver ou enxergar, pensar e executar o ato de modo intencional. Por meio do conhecimento indireto do povo em geral e por meio do conhecimento indiretíssimo da ciência, (ambos inferenciais) o homem, externamente, só se depara com aparências, reconstruções, ilusões ou Maya, conforme dizem os orientais. Quando vinga o conhecimento indireto do povo em geral e de certos cientistas também – sim, pois atualmente a maioria dos cientistas está ligada aos enfoques astronômicos e microbiológicos, onde todos eles arrotam grosso, graças ao conhecimento indiretíssimo – os sábios orientais alertam que nossos sentidos aí só captam e constatam Maya (ou a ilusão, as aparências), que é aquilo que o nosso fantasmagórico cérebro “capta”, interpreta e traduz., A pretensa mente pensante, como nela prevalece o ego, com este prevalece também a ignorância primordial (Avidya). E por sua vez, tal mente, ao invés de Saber-Sentir-Intuir, faz vingar o mal pensar, com todas as suas mazelas e más conseqüências. A ignorância-ego-desejo aí prevalecerá absoluta.
Se esta falsa ego-pessoa pensante pretende conhecer o dado externo, o mundo, digamos, ela, sem dar-se conta disso, acabará utilizando como instrumento do conhecimento o próprio Avidya (ignorância primeva). E todo objeto que estiver na sua frente transmutar-se-á em Maya, em aparências. O pretenso conhecedor pensante portanto tem dois inimigos, o fantasma externo chamado Maya (e não mundo ou universo científico) e o fantasma interno chamado Avidya, nunca inteligência e criatividade.
Se no homem não prevalecer o autotoconhecimento, a reta percepção, a reta cognição, a reta compreensão, ele sempre ficará restrito ao conhecimentos indiretos e indiretíssimos.
Só o Autoconhecimento e o Conhecimento Direto é que podem ajudar e libertar o homem. A lógica-razão, o intelecto, o raciocínio, a memória, a imaginação (quando exacerbadas) ao extremo, mais a sagacidade, a astúcia intelectual, a inflação matemática são o lixo da mente. Tudo isso resulta em Geração Condicionada, tudo isso a reforça.
E mais, a Geração Incondicionada ou Autonatureza nos escapa porque tanto o demônio externo ou Demiurgo miserável quanto o ego-pensamento em todo homem não deixam que o homem venha a conhecer com perfeição. A Geração Incondicionada surge espontaneamente Aqui e Agora, e é o que é. Aqui Sujeito-Ser e Objeto-Ser são o que são, livres harmônicos, amorosos, espontâneos etc.
A lógica-razão, quando a partir do segundo momento em diante se levanta e se intromete, graças ao Avidya Primordial ou Ignorância, essa mesma lógica-razão esconde a Verdade ou a Geração Incondicionada. No lugar do que escondeu, ela coloca ou superpõe seus próprios frutos, em suma reconstrói distorções e fantasmagorias. E em terceiro lugar o pensamento ou a lógica-razão primordial no lugar da Não-Dualidade – verdadeira Unidade – coloca uma falsa pessoa pensante de um lado e um falso objeto ou mundo pensado do outro. E em quarto lugar,. Não bastassem todos esses estragos suscitados pela ignorância-desejo (ou avidya) e pelos pensamentos estruturantes, estes últimos ainda se desdobram em pensamentos discursivos e começam a arrazoar, a conversar, a raciocinar, a explicar, justificando todas as intromissões e distorções que fizeram.